Quem faz provas de redação da FCC não lança qualquer dúvida sobre o enfrentamento de diversos desafios não só no momento de execução de sua redação como também no processo de preparação para compreender o tema da banca.
Sabemos amplamente que a FCC apresenta temas não tão objetivos como o Cespe ou a FGV em suas provas. A banca prefere conhecimentos gerais a atualidades; em outras palavras, cabe dizer que o exame proposto por ela exige dos candidatos reflexão e senso crítico diante de fenômenos sociais e culturais que acometem a contemporaneidade. Nesse sentido, os acontecimentos, mesmo os de grande repercussão, servem apenas para exemplificar a exigência por análises mais profundas de suas causas e de seus efeitos, a considerar sempre o perfil da sociedade do século XXI.
Para a compreensão do que falamos, tomemos como exemplo o seguinte fato emblemático: as eleições de 2018. Para a banca não interessa discutir exatamente os fatos implicados na corrida eleitoral vigente. O que ela vai exigir do candidato é o visualizar do contexto em que o fato em si ocorre; por isso, cabe indagar que características teria a sociedade que elegerá seus candidatos em 2018; que circunstâncias moldariam o processo eleitoral; quais seriam os efeitos esperados para o resultado de tais eleições, levando-se em consideração o comportamento social vigente.
Entendamos agora a estrutura do tema em si, coisa pouco considerada por quem estuda e, quiçá, por muitos que se propõem a ensinar redação. Para ser bem clara quanto ao que quero dizer, farei uma analogia simples: o projeto da casa de uma pessoa traz consigo seu gosto pessoal. Este não está somente no conteúdo da casa, com seu acabamento, seus móveis e sua decoração, isto é, o gosto do freguês começa pela divisão dos cômodos, pela posição das janelas etc.
Em redação, ocorre fato bem similar: antes mesmo de se pensar o conteúdo que a banca espera do candidato, ele precisa perceber a estrutura do tema. Isso ganhou uma importância singular para o próximo concurso, porque tem sido, junto com progressão e encaminhamento, o fator das reprovações e das notas baixas das redações da FCC, nos últimos concursos realizados pela banca.
Indo mais a fundo, abro destaque especial para o desempenho dos redatores do tema do TRT da 6ª região. Foi um concurso com notas pouco expressivas e bem equilibradas. Mas um concurso de redações bastante reveladoras quanto ao perfil dos escritores: boa parte das pessoas apresentou uma escrita digna de bons predicados; surpreendentemente, porém, pouco valorizada pelos examinadores. O que explica esse fator de aparência contraditória foi a compreensão tangencial do tema ou o exorbitar dos seus limites.
Um dos temas, por exemplo, trouxe os seguintes dizeres: “A concentração aguda de riqueza em mãos privadas veio acompanhada de uma perda do poder da população geral. As pessoas se sentem menos representadas. Trata-se, na verdade, da desilusão com as estruturas institucionais, que chegou a um ponto em que as pessoas já não acreditam nos fatos. Se você não confia em ninguém, por que tem de confiar nos fatos? (Disponível em: CHOMSKY, Noam. https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/06) Com base no excerto acima, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: A informação em face do descrédito institucional.”
Como o tema geral trazia o assunto “informação”, muita gente que estudou “fake news” (falsos informativos das redes virtuais) resolveu dissertar sobre isso ou usar, de forma pouco eficaz para a redação, isso como exemplo. A questão é que, apesar de “fake news” fazer parte do campo semântico de “informação”, cabe elucidar que os falsos informativos só teriam validade para o texto se fossem associados à produção de informações em âmbito institucional, não em âmbito pessoal. Claramente o tema associa “informação” a “descrédito institucional”. Portanto, não se trata, exatamente, de alegar que as falsas informações produzidas por usuários na internet são a força motriz da desconfiança alegada. Isso não cabe ao texto, porque o tema não orbita em tal área.
Em resumo: é preciso ler o tema; grifar suas palavras nucleares (no enunciado); policiar a redação para não deixar que ela exceda a proposta temática.
Se o candidato não fizer isso, ele terá, de cara, prejuízo na nota dos três quesitos avaliativos do critério CONTEÚDO.
Outra questão importante na qual venho insistindo fortemente com os candidatos: aprenda a reconhecer a diferença entre SENSO COMUM e SENSO CRÍTICO. O senso comum traz o conhecimento que pode ostentar seu valor de “verdade”, mas é que é compartilhado por todos, ou seja, trata-se de uma verdade “rasa”, pertinente ao conhecimento geral. O senso crítico consiste na ampliação do senso comum ou na descaracterização deste. Por senso crítico se compreende o aprofundamento da “verdade comum” ou o seu descortinar.
Se um concurso oferece menos, como de praxe, menos vagas dos que demanda a vontade dos candidatos, é de se pensar: o que tem mais valor em termos argumentativos? Senso comum ou senso crítico?
Sem demora na resposta, só pode ser o senso crítico, ou seja, a “verdade argumentativa” que a maioria desconhece ou que não quer saber ou que simplesmente não sabe usar para ir ao encontro da expectativa dos examinadores. E não precisa ser mágico para discutir isso, porque o quesito “b” do critério Conteúdo trata exige exatamente “senso crítico”.
E finalizo: senso crítico não se resume a tomar o nome de um sociólogo de renome e associá-lo a ideias pouco palpáveis. Senso crítico, repiso, é a abordagem que transborda os limites comuns de conhecimento de determinado assunto.
Um bom exercício para ajudar você a melhor o senso crítico é sempre desconfiar das verdades acessíveis à maioria dos espectadores ou dos leitores. Se dentre cem pessoas, noventa entram em acordo para considerar que o lado A de assunto tem valor de verdade e somente dez consideram que o lado B é válido como verdade, um redator da FCC tem obrigação de, pelo menos, estudar sobre o valor do lado B. Se fosse o Cespe o dono do concurso, o lado A seria a porta de entrada do concurso, mas, em se tratando de FCC, é melhor você se tornar um detetive na hora de se preparar para a redação: desconfie de tudo!
Para levantar suas provas, recomendo leitura sobre os seguintes assuntos que você encontrará facilmente na “web”:
Segue um tema para você compreender um pouco do que explanei.
“O poder precisa controlar o poder, ou seja, precisamos de instituições sólidas, capazes de frear as tendências que dizem respeito ao mandamento ético. Mas não se pode abandonar a ideia de que a vontade moral passa a ter muitos fins em detrimento do cumprimento do dever propriamente dito.” (2018, Gilles Lipovetsky)
Com base no excerto acima, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema:
A conduta ética para o controle institucional do poder
Tenha sua redação corrigida e aprenda mais: Discursivas TRT 2a Região
*apesar de haver a extensão “técnico…”, o curso é voltado para atender os concorrentes a todos os cargos.
Estude para a Prova Objetiva: Objetivas TRT 2a Região
1 Comentário
Bom artigo e esclarecedor! Mas professora Júnia quais sãos os sociólogos ou filósofos de boa argumentação nos eixos temáticos a seguir:
Censura, vigilância, controle e disciplina na sociedade em redes.
O individualismo contemporâneo.
Liberdade de expressão e seus limites.
Aguardo resposta
Att
Tadeu